“Um único escaldão potencia o riscoâ€
A propósito do dia do Euromelanoma, que se comemora a 16 de Maio, entrevistámos o conceituado dermatologista César Martins, que nos explicou, de forma clara, curta e concisa, o que é afinal esse “pequeno sinal anormal†que surge (ou se transforma) inesperadamente na nossa pele. Um único e simples escaldão, pouca protecção solar e demasiadas horas expostos ao Sol podem ser “um tudo ou nada†para a vida toda.
Saiba como prevenir, os alertas mais importantes e os principais factores de risco.
O que é o Melanoma?
É um sinal maligno, que aparece sobretudo na pele, que é exposta à radiação solar, embora possa surgir em outros lugares. É um sinal escuro, assimétrico, com os bordos irregulares, cores diferentes, variando entre castanhos, pretos e até outras cores, com um diâmetro superior a 6mm. É um sinal que mudou de aspeto, que evoluiu, que antes apresentava determinadas caracterÃsticas e que agora apresenta outras.
Tendo em conta essa descrição tão pormenorizada que fez, considera que tem sido mais fácil para as pessoas, ultimamente, detectarem este tipo de problemas num auto-exame?
As campanhas de prevenção primária têm resultado. As pessoas estão mais atentas. Algumas das brochuras que distribuÃmos ajudam ao auto-exame. As pessoas já sabem como fazer. Embora, por exemplo, as mais idosas tenham mais dificuldade, tal como quem vive sozinho, pois será mais complicado um sinal nas costas, que não consegue sequer ver. Mas há uma preocupação crescente em relação ao cancro da pele.
Quais são as principais causas e os factores de risco do Melanoma?
A principal causa é o sol. O que faz mal são os escaldões, é o sol apanhado de forma intensa, que torna a pele vermelha. Na realidade se tiver apanhado um escaldão só no primeiro dia, é um risco de “tudo ou nadaâ€. Poderá desenvolver um tumor sobre um sinal que já tinha ou desenvolver um tumor novo. As pessoas podem apanhar Sol, mas têm que aprender a conviver com o sol. Devem deixar bronzear a pele de forma natural, nunca à custa de radiações solares intensas. Um único escaldão potencia o risco.
Fica por explicar a razão pela qual aparecem melanomas nas plantas dos pés, que não estão expostas a tanto sol, ou como surgem os melanomas das mucosas e oculares. Haverá seguramente outros factores, que supomos que estarão relacionados com a parte genética.
O Melanoma é uma doença com possibilidade de cura? Como é tratado? Há um alerta mais especÃfico para quando o problema está realmente num estadio mais avançado ou numa primeira fase tudo é uma incógnita e tudo pode ser possÃvel?
O melanoma, como os tumores de outros órgãos, é classificado em três estadios diferentes. Inicialmente é localizado, numa segunda fase a doença para além de ser somente localizada na pele passa a ser loco-regional, afectando os sistemas de drenagem linfática, os gânglios linfáticos, que são as nossas primeiras defesas.
Numa terceira fase, a doença metastiza, que é aquilo a que as pessoas chamam vulgarmente por “espalharâ€. No melanoma, o tumor primário, de uma forma geral, é curável cirurgicamente. Na segunda fase o prognóstico é mais complicado, mas a cirurgia continua a ter um papel fundamental. Na terceira fase, em que está “espalhadoâ€, as coisas mudam um bocadinho. Há uns anos, a quimioterapia era muito má, não resultava quase nada, era um trabalho inglório. Nos últimos quatro anos têm aparecido novas terapêuticas que revolucionaram o tratamento da doença nesta fase metastática. É possÃvel dar um tempo de vida substancialmente maior a quem tem este tipo de cancro. Quem sabe se nos próximos tempos não vão começar a surgir os primeiros doentes definitivamente curados com este tipo de medicamentos?
Que perspectivas existem no futuro para o tratamento do Melanoma?
O portefólio que as empresas farmacêuticas apresentam, hoje em dia, em investigação para novos tratamentos para o melanoma é vasto. Seguramente que nos próximos tempos – e aqui os tempos vão correr rápido – vão aparecer muitas coisas inovadoras e mais eficazes. Durante muitas décadas, a evolução dos tratamentos para o melanoma nesta fase mais avançada, esteve estagnada. Não havia nada para oferecer, mas investiu-se e investigou-se muito e os resultados começam a aparecer.
Para além do “sinal anormal†que surge na pele, há mais algum outro sintoma para o qual as pessoas devam estar atentas em relação ao melanoma?
Não, os alertas são apenas visuais. Há que estar atento aos sinais que mudam de aspecto e à evolução das seguintes directrizes do melanoma: ABCDE (A – Assimetria, B – Bordos irregulares, C – Cores diferentes, D – Diâmetro, E – Evolução). Se as pessoas fizerem o seu auto-exame, baseado nestas cinco linhas orientadoras, vão conseguir aperceber-se se algo não estiver bem.
Como podemos então prevenir o melanoma?
As pessoas têm que interiorizar o que se diz. Não podem ouvir a mensagem e simplesmente ignorá-la. Há que ter cuidado com o sol. Não estar exposto a radiações solares entre as 11 e as 16 horas e principalmente evitar os escaldões. Infelizmente, continua-se a ir para a praia nessas horas. Quando fazemos as campanhas de rastreio e distribuÃmos questionários, para percebermos em que horas as pessoas apanham sol, ninguém responde que está exposto a radiações entre as 11 e as 16 horas. Portanto, sabe-se que se está a cometer um erro.
Uma outra coisa muito importante é que se tenha uma noção correcta do que é o protector solar. Se um frasco de 125 ml dá para toda a famÃlia, numa semana de praia, então seguramente não se está a aplicar a quantidade certa. Devem colocar muitas vezes e não podem espalhar demasiado só para render. Por mais que o protector diga que é resistente à água, quando as pessoas chegam a casa e tomam banho, o creme também sai, portanto por que não há-de sair também na água do mar?
A Prevenção é palavra de ordem no contexto do melanoma e há claramente, ainda, um caminho a percorrer neste âmbito. É preciso informar, sensibilizar, consciencializar, trabalhar mentalidades, mudar atitudes. Num paÃs com o “nosso†clima, é perentório.