TRAUTE FINKEN, diagnosticada com Artrite Reumatóide aos 38 anos:
“O médico disse-me que em 10 anos estaria numa cadeira de rodasâ€
“Sinto-me bem, vou ao ginásio e à piscina todos os dias, é a mexer que me sinto bemâ€, isto poderia ser dito por qualquer pessoa saudável, que nunca teve um “encontro imediato†com um cenário de dor constante e até, por vezes, incapacitante. Mas não! Quem o diz, e com o maior dos sorrisos nos lábios, é Traute Finken, uma alemã de 66 anos que trocou o seu paÃs de origem pelo soalheiro Algarve no momento em que, com apenas 38 anos, foi diagnosticada com Artrite Reumatóide. “O médico disse-me que em 10 anos estaria numa cadeira de rodas, mas recusei-me simplesmente a acreditar e a aceitarâ€, relembra Traute, que mudou radicalmente toda a sua vida para “empurrar†esta doença para fora da sua vida. Conheça a sua história.
Foi diagnosticada com artrite reumatoide numa idade precoce, que sentimentos e medos a assolaram nesse momento?
No primeiro momento não liguei absolutamente nada. Sou uma pessoa muito positiva e não gosto de falar de coisas que não conheço bem, portanto até saber exactamente do que se tratava não fiquei muito aflita. Tinha dores e vivia com isso, mas como não sabia muito mais sobre a doença, também não sabia o que poderia acontecer.
Que prognóstico(s) fizeram os médicos sobre a sua doença?
No inÃcio, só falei com o meu médico de famÃlia e ele era uma pessoa pouco sensÃvel e até mesmo brusca. Esse comportamento, fez-me tomar uma decisão importante: mudar de médico. Escolhi uma senhora, mais sensÃvel, que me aconselhou logo a ser seguida num hospital da especialidade. Foi com essa médica que consegui ter mais confiança naquilo que devia fazer. Dois meses depois de ser diagnosticada, fui hospitalizada e lá deram-me um diagnóstico mesmo negro. Disseram-me que dentro de 10 anos estaria numa cadeira de rodas.
E como reagiu?
Não chorei, limitei-me simplesmente a não acreditar em nada do que me diziam.
Mas a Traute contrariou esse prognóstico. A sua história é inspiradora. Mudou de vida, mudou de paÃs e a sua doença estabilizou, por que considera que isso aconteceu?
Estive ainda três anos na Alemanha após ser diagnosticada e não consegui mudar nada na minha vida, porque as dores não me permitiam isso.  A dor estava sempre presente e não tinha energia para fazer outras coisas. Em 1990 fiquei grávida, e durante esse perÃodo senti-me sempre bem. Consegui ter mais força e deixei de ser prisioneira da doença. Depois do nascimento da minha filha Suse, o médico disse-me que tudo poderia piorar por causa das mudanças hormonais. E realmente aconteceu. Piorei e já não conseguia trabalhar. Nessa altura, pensei que essa situação me daria a possibilidade de começar uma vida nova e esse pensamento foi muito positivo.
E que grandes mudanças foram essas na sua vida?
Já tinha estado de férias em Portugal e por isso comecei a procurar uma casa por aqui, no Algarve. Já não podia trabalhar e, portanto, também já não precisava de ficar na Alemanha.
A minha vida nova começou em Portugal. Ao mesmo tempo, mudei de médico, para um reumatologista, que me receitou uma medicação, o Metotrexato, que ainda hoje tomo, e que fez uma grande diferença na regressão da minha doença. Também comecei a sentir que as atitudes do meu marido tinham um efeito negativo em mim e, por isso, decidi separar-me. Entrei para um coro, onde ainda hoje canto, e posso garantir que até isso me ajudou a afastar tudo o que de pior existe associado a esta doença.
“Não quis conhecer histórias como a minhaâ€
Quais foram os primeiros sintomas a darem-lhe o alerta de que algo não estaria bem?
Tinha algumas dores num pé e consultei um ortopedista. Depois de um Raio-X ele desconfiou logo que poderia ser artrite reumatóide. Mas foram, sem dúvida, as dores nas articulações que serviram de primeiro alerta.
Existem motivos para se acreditar que o histórico familiar pode contribuir para sofrer da doença. No seu caso não havia ninguém na famÃlia que sofresse do problema?
Mais tarde soube que na minha famÃlia havia muitos casos de pessoas com doenças auto-imunes. Existe, portanto, um histórico familiar.
Como é que a doença afectou a sua vida, em termos práticos?
Sou uma pessoa positiva, e posso até dar dois exemplos muito especÃficos em relação a isso. No inÃcio, tinha muitas dores no pescoço e quando me levantava tinha que colocar as duas mãos nesse local para me ajudar a levantar a cabeça da cama. Foi horrÃvel. Um dia disse: “se eu acordar sem dores no pescoço, dou uma festaâ€. Um dia isso aconteceu, e então eu telefonei aos meus amigos e convidei-os para uma festa.
Outro exemplo é que eu não conseguia andar bem, os dedos dos pés ficavam presos e então o médico receitou-me uns sapatos especiais, ortopédicos, com uma sola muito grossa, que ajudavam os dedos dos pés a deslizar. Tinha algum desgosto de usar aqueles sapatos, porque eram muito feios. Mas a verdade é que me ajudaram a voltar a andar. E prometi que quando isso acontecesse compraria uns sapatos bonitos. Quando isso aconteceu, fiquei muito orgulhosa, primeiro por conseguir andar e ainda por cima com uns sapatos tão bonitos (risos).
Para além dos tratamentos médicos, o que mais fez para ajudar a conhecer melhor esta doença?
Os médicos na Alemanha aconselharam-me a começar a frequentar uma Associação de Doentes com Artrite Reumatoide, mas eu decidi que não queria envolver-me com mais pessoas com o mesmo problema. Não senti necessidade de conhecer mais histórias como a minha, e acho que isso me ajudou a não estar sempre a pensar na doença.
Que palavra(s) associa a esta doença?
A doença é dor. Para mim, no inÃcio, a doença ocupava-me o corpo e a mente, mudou o meu carácter. As dores estão presentes de dia e de noite. Cheguei a perder um pouco da minha alegria. Mas ultrapassei tudo isso.
Acredita que, tendo em conta a sua história relacionada com esta doença, “enganou” a artrite reumatóide?
Acho que a palavra certa não é enganar, mas sim empurrar a artrite reumatóide da minha vida. Eu tomo medicamentos, mas dentro da minha cabeça não me vejo como uma pessoa doente. As dores não ocupam a minha vida, “empurrei-as†para o lado (risos).
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O que é Artrite Reumatoide?
Caracterizada por inflamações constantes nas articulações, a Artrite Reumatoide é uma doença autoimune, que pode provocar deformidades nas juntas e afectar outros tecidos e órgãos. Embora seja um problema crónico, os antirreumáticos costumam controlar a doença.